Toda terça-feira vamos trazer um texto para refletirmos juntos. Hoje selecionamos este texto do Conrado Muylaert que fala sobre ansiedade e a forma que estamos vivendo. Segue o texto:
“Há alguns meses, li uma matéria sobre um cantor muito famoso que, minutos antes de entrar no palco, teve uma crise de ansiedade que culminou com o cancelamento do show, deixando milhares de pessoas que já aguardavam no recinto pelo astro. Muitos leitores escreveram comentários com um tom malicioso, duvidando da mencionada crise. “Overdose agora se chama ansiedade” – dizia um deles.
Eu mesmo achei estranho. Dias depois, um parente querido passeava no shopping center quando, subitamente, sentiu dores fortes na cabeça, desmaiando a seguir. No hospital, o diagnóstico: Crise de ansiedade.
Como último exemplo, menciono uma colega de trabalho que após não levar a sério diagnósticos sobre sua ansiedade, chegou ao caso extremo de ser internada, já com problemas de saúde bem mais complicados, que determinaram sua ida para uma clínica de repouso por cerca de 6 meses.
Parei para pensar sobre esse transtorno comum dos dias atuais. Que parcela de culpa temos com o descontrole da nossa ansiedade?
A ansiedade é conceituada como uma emoção caracterizada por um estado desagradável de agitação interior, muitas vezes acompanhada de comportamento nervoso.
Pense comigo: por que estamos agitados interiormente?
Veja se você se identifica com alguma dessas situações de um dia normal.
Você acorda e pega o celular, olha as mensagens e não responde porque já abriu o email. Abre o site de noticias. Lê só os tópicos. Levanta da cama e se veste ao mesmo tempo que prepara um café. Bebe o café olhando para o celular, vendo TV, amarrando o sapato. Escova os dentes e o cabelo ao mesmo tempo e olha para a tela do celular, que agora está no mármore da pia.
Enfim, sai de casa. No carro, olha as mensagens do aplicativo a cada vez que o trânsito para. O celular fica na perna para ser imediatamente acessado a cada sinal vermelho, quando mensagens, ligações, e consulta a noticias são feitos.
Trabalha até a hora do almoço. Corre para o restaurante para encontrar um amigo. Descanso para mente? Não! Come enquanto conversa com a pessoa, porém mal ouve o que ele fala pois está conversando também no whatsapp. Com várias pessoas. A cada garfada, uma frase dita, uma frase escrita. Ainda há tempo para atualizar o site de notícias, ver o email e suas redes sociais. Termina o almoço. Despede-se do amigo e tem a sensação que o encontro passou voando. Na verdade, mal se lembra do conversado.
Ufa. Chega! Essa narração me deixou ansioso demais. Nem consegui chegar ao fim do dia.
Já pensou como não conseguimos encarar o vazio? Buscamos preencher todos os minutos do dia. E qualquer segundo vago será ocupado pelo celular.
Imagine o quanto nosso cérebro trabalha atualmente. Parece fácil prever que alguma hora a máquina vai dar defeito. Por isso, repito: Você precisa se dar um tempo.
Eu sei que é uma missão difícil. Afinal, ninguém tem tempo para nada. Mas, voltando a um dos exemplos acima, aquela minha amiga costumava fazer tudo ao mesmo tempo, dormindo cada vez menos, e acelerando cada vez mais. Resultado: ela que nunca tinha para nada, teve que parar a vida por quase um ano.
Tente algumas mudanças diárias: Uma tarefa por vez, ok?
Que tal dirigir todo o percurso sem olhar o telefone?
Concentre-se na atividade prazerosa que é comer.
Converse olhando nos olhos, sem alterná-los para a tela do celular.
Sobrou um tempo? Pare. Não o preencha com qualquer coisa. Aproveite o vazio. Guarde energia. Puxe o freio. Deixe os pensamentos virem. Respire. Ouça uma música que você goste. Ou apenas o silêncio. Medite.
Sua mente precisa dessa trégua. Quanto mais coisa você tentar fazer ao mesmo tempo, mais rápido o tempo te escapa. Passa voando.
Observe os animais ao nosso redor. Gatos descansam sempre que podem. Eles guardam energia e, quando precisam de verdade, são capazes de escalar paredes, correr muito, fugir de inimigos, pegar presas. Caso parecido com o dos cachorros. Sabem aproveitar o tempo, fazem uma tarefa por vez, dormem sempre que podem. Curtem ao máximo suas refeições. Brincam. Fazem o tempo passar devagar. Os dias rendem bastante. Um ano é uma eternidade. Deve ser por isso que sua idade é multiplicada por sete para comparar com a dos humanos. Será?
Deixando a brincadeira de lado, termino esse texto desejando que você, leitor, fique atento aos sinais do seu corpo e da sua mente e mantenha sua rotina num ritmo saudável.”
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